10 características de uma product-led company

Por EloInsights, com colaboração de Rafaela Osório

  • Product-led companies trabalham na lógica estrategicamente digital e deixam para trás concorrentes incapazes de se adaptar à nova realidade.  

  • Essas organizações compartilham características-chave, como o foco no consumidor, a tomada de decisão baseada em dados, a mentalidade de experimentação, entre outras.  

  • Este artigo elenca 10 dessas características, e detalha cada uma delas, de forma a ilustrar como opera uma product-led company, com mentalidade estrategicamente digital.  

Em um mundo em que a tecnologia cada vez mais permeia as interações, uma product-led company deixa para trás concorrentes que não se adaptam a essa nova mentalidade. Esse termo em inglês é amplamente usado no livro EMPOWERED: Ordinary People, Extraordinary Products, de Marty Cagan – uma das maiores referências em produto –, e ajuda a situar as empresas no atual contexto marcado por mudanças mais rápidas, constantes e profundas. Se antes era possível atuar de dentro para fora, hoje é impossível desenvolver produtos e serviços sem levar em conta a vontade do consumidor.

Toda essa transformação digital transmutou o mindset de negócios como um todo, não apenas o das empresas de tecnologia. Passamos de uma realidade em que poucas empresas detinham custosos recursos tecnológicos e em que eram escassos os canais para alcançar os clientes a outra, em que não dependemos mais de uma propaganda caríssima no intervalo da novela para chegar à casa do consumidor brasileiro. Pode-se, inclusive, atingir um público muito mais numeroso organicamente ou de forma mais eficiente e personalizada com campanhas nas mídias sociais.   

A disponibilidade de novos canais, somada ao acesso à tecnologia, amplificou vozes e abriu espaço de influência. Se uma gigante do mercado demorava muito para perder espaço ou passava décadas sem sequer ser ameaçada por novos entrantes, ganha força e contorno um cenário de alta competitividade, onde se destacam e ganham vantagem as empresas que já nasceram digitais. Com seu core e um mindset totalmente voltados para a aplicação estratégica de tecnologia, com ações centradas no cliente, com a disposição de romper padrões e resolvendo problemas que o mercado tradicional não podia, elas trouxeram necessidade de adaptação.  

Na lista a seguir, destacamos 10 características de uma product-led company que a coloca em condições de liderar o mercado e inovar em um mundo que demanda constante adaptação:

1 - Tecnologia como lente

Essas empresas usam a tecnologia como uma lente, o que permite a visualização de oportunidades que podem agregar valor e oferecer soluções efetivas aos clientes. Engenheiros de software não atuam somente servindo à área de negócios – eles são parte fundamental da construção de qualquer solução, desde o início do processo. 

A realidade em que estamos inseridos é redefinida por novas invenções o tempo todo e, com tantas possibilidades, a construção de um projeto conduzida a partir de uma lente única tende a ser incompleta. Ter a tecnologia como lente que amplia e integra as inúmeras possibilidades do negócio gera uma vantagem competitiva significativa, já que o esforço fica centrado em resolver os problemas do cliente da forma mais inteligente e eficiente possível. 

2 - O cliente no centro das decisões

O mindset de uma empresa estrategicamente digital é centrado no cliente. Ela coleta, escuta, observa e absorve as informações para fazer melhorias contínuas e inovações com base em novas necessidades.

Empresas mais tradicionais tendem a tomar decisões olhando para o lado, tentando seguir seus concorrentes. Ao olhar para o próprio cliente, é possível se ancorar na frente, pois cria-se assim soluções de forma mais assertiva e, consequentemente, serão os concorrentes que passarão a seguir. 

3 – Dados compartilhados para embasar decisões

A tomada de decisão é baseada em comportamentos e necessidades do cliente, o que tem relação direta com análise de dados, mas também com a disponibilidade das informações para os times que direcionam as ações.

Se você trabalha com uma estrutura em cascata, com uma área dependendo de outra para avançar, é complicado propor qualquer experimento. É comum que departamentos específicos controlem a coleta e armazenamento de dados e é muito complicado disponibilizar tais referências a outras alçadas. Sem esse compartilhamento, não há segurança na tomada de decisão, porque não é possível validar, verificar e monitorar hipóteses.

Utilizar a inteligência de dados também significa democratizar o acesso a informações. Os caminhos podem ser apontados de forma simples, com auxílio de um dashboard que reúna o que for mais relevante para que sejam identificados padrões e oportunidades, dando insumos para a criação de novas possíveis soluções com maior velocidade. Isso tudo se conecta a um mindset de experimentação. 

4 - Forte cultura de experimentação

Para quem nasceu digital é muito mais orgânico adotar a cultura do testar. Isso porque essas empresas surgem em um ambiente de maior competitividade e alto risco, com o mindset do empreendedorismo.   

Há abertura para se errar dentro de uma margem de risco. É possível testar uma nova funcionalidade com 1% da base de usuários e ver como ela funciona. Caso algo não dê certo, posso tirar do ar e seguir em frente. Empresas mais tradicionais precisam passar esse mesmo processo pela aprovação de diversos setores. O resultado é uma demora de até meses para que qualquer tipo de teste seja feito. Experimentar e errar são questões muito relevantes, pois abrem caminho para o novo. 

Uma empresa que realiza 15 experimentos em um mês, mesmo ao refutar muitas das teses inicialmente propostas, tem uma curva de aprendizado mais acentuada em relação à que não realiza experimento algum. Cedo ou tarde novas teses serão confirmadas e essa empresa tomará a dianteira.

 

5 – Velocidade e inovação

A velocidade acaba sendo uma consequência de uma estrutura sem tanta burocracia e com o menor número possível de alçadas de aprovação, o que só é possível em empresas nas quais os dados, e não os chefes, são os elementos norteadores para os tomadores de decisão. Isso faz com que as equipes sejam mais rápidas não apenas em seus processos de criação e entrega, mas também para testar novas tecnologias. Isso facilita a alta produtividade. 

Se pararmos para pensar no dia a dia de uma empresa que não estuda seu cliente, não promove a experimentação, se pauta por ideias prontas e é devagar para promover mudanças, ela não consegue acompanhar uma concorrente que esteja próxima do cliente validando inúmeras possibilidades a cada semana.  

Em um recorte temporal de cinco anos, se compararmos as duas, a mais acostumada a lidar com experimentações terá mais insights sobre modelos de negócio, sobre novos produtos e ofertas. Assim, estará mais pronta e capaz de inovar. 

6 – Adoção de uma estrutura ágil

A agilidade não é apenas um ganho de velocidade. Esse aspecto também envolve a multidisciplinaridade dos times, a sinergia de várias pessoas trabalhando em conjunto, em vez de estarem compartimentadas em silos. Diz respeito, sobretudo, à autonomia para resolver problemas.

Um time empoderado, com liberdade de ação e munido das capabilities necessárias é um time engajado e empreendedor. Além disso, em vez de entregar um único grande projeto com meses ou anos de execução, para só então identificar possíveis erros, é possível quebrá-lo em várias partes menores, reduzindo riscos e acumulando aprendizados.

É um ciclo de menor duração que, sem dúvida, leva a uma solução muito mais madura e mais aderente às necessidades do cliente e do negócio.

7 – Construção de propósito e de visão compartilhada

Product-led companies entendem que cada colaborador tem um papel importante na estratégia como um todo. 

Usando a interação para demolir barreiras entre times e dando a eles autonomia para a resolução de problemas conectados à estratégia, consegue-se gerar maior engajamento e senso de propósito.  Times autônomos e com desafios de negócio claros – e não apenas com entregas determinadas, são mais motivados a pensar nas melhores maneiras de encontrar soluções.

8 – Liderança que valoriza as pessoas

Juntando os pontos debatidos: a tecnologia como lente, uma visão estrategicamente digital em que as decisões são embasadas em dados e times empoderados trabalham com menos barreiras, muda-se completamente o papel da liderança.

O líder deixa de ser o único que aponta o caminho e toma as decisões e passa a ser quem viabiliza, ou seja, é o facilitador que garante a todos o acesso à informação, que promove condições para a realização de experimentos e dá autonomia para os colaboradores tomarem suas próprias decisões. 

Ele facilita que os colaboradores enxerguem um propósito, dá a visão e a razão. Dá espaço para que soluções criativas sejam tomadas com liberdade, a partir de análises bem estruturadas de base, ajudando os colaboradores a construir confiança e autoridade nos assuntos em que são especialistas.  

9 – RH como uma plataforma

Com o foco voltado à humanização dos colaboradores. São as lideranças que tomam decisões estratégicas, como a formação de seus times. A área de Recursos Humanos atua como uma plataforma que apoia e fortalece os líderes, viabilizando contratações, capitaneando o desenvolvimento e a retenção de talentos, entre outras diversas funções.  

10 – Diversidade e foco no resultado

Podemos descrever a promoção de uma cultura de diversidade e foco no resultado como uma cola aglutinadora de todos os pontos citados. Não se trata apenas de promover ações pontuais de inclusão racial e de pessoas com deficiência, de respeito a orientação sexual e igualdade de gêneros. Mas sim de algo muito maior. 

É ter clareza que o mundo em que vivemos abraça cada vez mais a diversidade e atuar para que sua empresa traduza em seu corpo de funcionários a representatividade de uma sociedade plural. A diversidade não é apenas um troféu, mas é uma forma eficiente de tornar os times ainda mais multidisciplinares, capazes de reunir diversas vivências e pontos de vista que se materializam financeiramente pela construção de um ambiente aberto a experimentação e aprendizados.

Uma cultura que foque nos resultados e não no horário em que a pessoa escolhe trabalhar, ou na roupa que ela pretende vestir, reforça um sentimento de pertencimento de cada colaborador que tem sua identidade validada e reconhecida. Faz com que propósitos e objetivos passem a ser lapidados coletivamente e, portanto, de forma muito mais sólida e duradoura. Colaboradores tornam-se empreendedores e não executores de tarefas. 

RAFAELA OSÓRIO é gerente de Transformação Digital na EloGroup

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